Quando nascemos
Uma deusa nos disse
Vai, seja mulher na tua vida
E, assim, ela nos honrou com a ciclicidade
Plantou em todas nós uma lua
Igual a do céu, brilhante,
viva,
mutante
E disse: - Essa será tua guia,
mas, se escolheres brigar com ela,
cuidado! conhecerás sua rebeldia
E, assim, nos celebrou com a sabedoria da transformação
Pela nossa ancestralidade,
Pelo sangue que escorre
Pelo saber intuitivo
Sentimos as coisas de vida-morte-vida
No peito
No ventre
Na alma
No corpo
Cada ciclo conta uma história
Cada história fala de uma jornada
Cada jornada nos revela certas mortes
Dessas mortes nascem outras vidas
Mas, sensível como é
Se por acaso sai do seu caminho de loba,
O mundo que corre louco
às vezes faz a mulher selvagem esquecer de si
Então, baixinho, uma voz ressoa
Intuição que habita
Dentro da própria mulher-deusa que se escuta
E nos lembra:
Não peças desculpa por ser infinita
Não deixes que abrandem teu fogo
Ou que interrompam o fluxo das tuas águas
Muda a lua lá fora, mutação
Sangra a lua de dentro, renovação
Às vezes tudo fora do lugar
Tudo uma bagunça dentro e fora
E, na ventania que acalma de repente,
Tudo muda, de novo e de novo e de novo
De novo, ela volta pra si
De novo, ela encontra o caminho do que alimenta a alma
De novo, ela se refaz, levanta, descobre, cria, sonha, luta
De novo, ela lembra de si inteira, completa, preenchida
Quando a escuridão se faz presente, escuta,
Quando agitada, silencia
Quando cria, alegria, selvagem
Quando triste, chora, escorre
Caso te percas,
Mulher selvagem,
Resgata teu caminho pelo corpo
Espelhando a lua do céu
Tudo vai mudar, de novo e de novo
Mas não temas, mulher-loba
Tão brilhante como lua cheia na noite
Sempre, sempre,
renascerás.
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